1927 – O Estádio de São Januário
A construção do Estádio Vasco da Gama, nosso querido estádio da rua São Januário, se deu na sequência da luta do Vasco da Gama por um futebol democrático e inclusivo, uma demonstração incontestável da força desse colosso do esporte mundial, que mesmo possuindo o maior número de torcedores e já tendo sido campeão do Rio de Janeiro, então maior metrópole do Brasil, ainda era visto com preconceito pelos rivais, sendo tratado como um clube de menor importância sob a “justificativa” de não possuir uma arena esportiva. A resposta do Vasco da Gama não poderia ser mais eloquente e vascaína. O Vasco não construiria apenas uma praça esportiva, mas o então maior Stadium da América do Sul!
O Estádio de São Januário, inaugurado em 1927, foi construído com as lágrimas, o suor e o dinheiro dos vascaínos. Um verdadeiro templo do povo, construído para reafirmar a grandeza do Vasco e os ideais que o Clube defende desde a sua Fundação. O estádio vascaíno é uma obra monumental, que, assim como a “Resposta Histórica”, materializa a alma do Vasco da Gama que desafiou seus rivais ao ficar ao lado dos seus atletas, enfrentando o racismo, o preconceito social e a xenofobia. São Januário foi a resposta definitiva dos vascaínos aos poderosos da época. Sua construção acabou por demolir a estrutura racista e preconceituosa que dominava o futebol. A realização desse grande feito, um marco para o esporte do Brasil, não seria possível sem a união da imensa colônia portuguesa do Rio de Janeiro com os milhares de brasileiros que passaram a admirar e seguir o Vasco da Gama.
O TERRENO
No dia 28 de março de 1925, o C.R. Vasco da Gama adquiriu o terreno para a construção do seu estádio. A área foi comprada da Sociedade Anonima Lameiro. O valor do terreno, uma área de 55.445 m2, foi de 609:895$000 (seiscentos e nove contos e oitocentos e noventa e cinco mil réis). O responsável pela busca do terreno foi o dirigente vascaíno Manoel Joaquim Pereira Ramos. Ele encontrou a grande área onde hoje está erguido São Januário, na encosta do Morro do Pedregulho, no bairro de São Cristóvão, na zona norte do Rio de Janeiro.
A COLINA HISTÓRICA / O GIGANTE DA COLINA
No local onde hoje encontra-se a Barreira do Vasco havia um casarão da antiga “Chácara do Bastos”, também chamada de “Chácara do Pedregulho”, popularmente conhecida pelos vascaínos como “Chacrinha do Imperador”. Essa elevação de terra teria inspirado a alcunha “Colina Histórica” ou “Gigante da Colina”, que inicialmente fazia referência ao estádio e, ao longo do tempo, ao próprio Club de Regatas Vasco da Gama. Entre as décadas de 20 e 30 do século XX, a colina foi desbastada. A Chácara do Bastos leva o sobrenome de Antônio José Gomes Pereira Bastos, o Barão Pereira Bastos, dono da Imperial Fábrica de Cerveja. Bastos era proprietário da área no final da primeira metade e início da segunda metade do século XIX. O vasto terreno servia para a produção de diversos frutos e plantas, como a cevada.
HASTEAMENTO DA BANDEIRA DO VASCO
No dia 20 de dezembro de 1925, o Vasco hasteou o pavilhão do Clube no terreno em que construiria o seu estádio. O mastro de ferro foi doado por Manoel Joaquim Pereira Ramos, responsável por encontrar o terreno. A bandeira teria sido doada por Raul da Silva Campos.
A FILIAÇÃO À AMEA
Em 1925, o Vasco foi novamente convidado a participar da Associação Metropolitana de Sports Athleticos (AMEA), sendo alçado à figura de fundador da entidade. O convite não foi fruto de qualquer arrependimento da solicitação de exclusão dos atletas vascaínos, pois mais uma vez tentaram impedir que atuassem alguns dos Camisas Negras, como ficou conhecido o histórico time do Vasco, Campeão Carioca de 1923. O retorno do Vasco se deu por pressão popular e financeira. Como o Vasco tinha a maior e mais engajada torcida do Rio de Janeiro, os lucros obtidos nos jogos contra a agremiação vascaína fizeram falta aos cofres dos clubes da Zona Sul ligados às elites da época, que em 1924 não contaram com a massa vascaína abarrotando os estádios em jogos da AMEA. Dessa forma, o Vasco, graças à sua torcida e jogadores, se impôs dentro do campo esportivo do futebol carioca e a inauguração do Estádio de São Januário foi a resposta definitiva à afronta contra o Clube, bem como fortaleceu a posição da agremiação vascaína contra os preconceitos em voga no esporte e na sociedade.
O FUTEBOL NESSE PERÍODO
No período de compra de terreno e construção do estádio (1925-1927), os resultados do futebol não trouxeram novamente a conquista do Campeonato Carioca. Concentrados na gigantesca missão de erguer seu stadium, os dirigentes vascaínos tiveram de lidar com conflitos internos com o técnico Ramón Platero, que inclusive envolveu os jogadores. A conquista do Torneio Início (1926) e o vice-campeonato Carioca (1926) não amenizaram a situação. O técnico uruguaio foi substituído pelo inglês Harry Welfare, cujo trabalho somente daria melhores frutos em 1929, com a conquista do Campeonato Carioca. Em 1928, o Vasco conquistou o vice-campeonato da competição.
FORMAS DE ARRECADAÇÃO PARA A CONSTRUÇÃO
O Estádio de São Januário é fruto do amor e da generosidade dos vascaínos. O Vasco da Gama fora desafiado, mais uma vez, pelas elites da época, e a resposta dos vascaínos foi avassaladora. Uma jornada épica, que envolveu milhares de sócios e torcedores.
Estão registradas, além das contribuições financeiras, a doação de pequenas e grandes quantidades de materiais de construção, e até mesmo de mão de obra, com vascaínos disponibilizando horas de trabalho voluntário ao seu Clube.
Era comum naqueles dias ver vascaínos humildes subindo a rua São Januário em carroças ou com seus “burros sem rabo” para doar cimento, pedra e areia para a construção.
A força de trabalho contratada para a grande obra foi complementada por voluntários de todos as áreas. Eram pedreiros, serventes, carpinteiros, marceneiros, vidraceiros, bombeiros hidráulicos, engenheiros e projetistas orgulhosos em servir ao seu Clube e à nobre missão de colocar de pé o “Gigante da Colina”.
Nos finais de semana, centenas de vascaínos e suas famílias vinham a São Cristóvão testemunhar com emoção o avanço das obras.
Faziam piqueniques na colina, próximo do casarão do Bastos, e observavam o desenvolvimento da obra.
O Vasco da Gama se utilizou de cinco principais formas para arrecadar recursos para a construção de seu estádio:
Doações de vascaínos (De associados mais humildes aos mais abastados);
A Campanha dos 10 mil (Eliminação do pagamento da joia para associar-se, com a intenção de ampliar o quadro associativo. Era para chegar a 10 mil sócios, e chegou);
Empréstimos internos e bancários;
Lançamento de debêntures no mercado;
Aumento da mensalidade dos sócios de 10 réis para 15 réis.
O INÍCIO DAS OBRAS: O LANÇAMENTO DA PEDRA FUNDAMENTAL
O Lançamento da Pedra Fundamental do Estádio, no dia 06 de junho de 1926, reuniu, entre outras autoridades, os dirigentes do Vasco da Gama, torcedores e o então prefeito do Distrito Federal, Alaor Prata Leme Soares (hoje, no Rio de Janeiro, dá-se nome ao Túnel Velho de Alaor Prata, em homenagem ao antigo mandatário da cidade). Além da assinatura da Ata de Lançamento pelo prefeito e dirigentes vascaínos, houve a inserção de uma espécie de “cápsula do tempo” no subsolo do futuro estádio.
A INAUGURAÇÃO: A PRIMEIRA FASE
Iniciada as obras, o processo de erguimento do “Gigante de concreto” entrou em ritmo acelerado. Um pouco mais de 10 meses depois do Lançamento da Pedra Fundamental, o Vasco da Gama dava ao Brasil o maior estádio da América do Sul. A área construída foi de 11 mil m², com capacidade inicial de 30 mil pessoas (apenas a Social e a Arquibancada que é oposta). A obra custou 1 mil e 200 contos de réis, sem o fornecimento de cimento e armação, que ficaram por conta do Vasco. O Clube forneceu 252 toneladas de ferro e 6.600 barris de cimento, para erguer uma estrutura excepcional de concreto (uma parte de cimento, duas e meia de areia e três e meia de pedra britada). De um refinado estilo neocolonial, a imponente fachada, do colossal stadium, obra do arquiteto português Ricardo Severo, chamava a atenção do público carioca.
Uma multidão foi assistir a partida inaugural, um Vasco x Santos, no dia 21 de abril de 1927. O major português Manoel Joaquim Sarmento de Beires, comandante do avião Argos, cortou a fita inaugural ao lado do presidente do Vasco, Raul da Silva Campos, e do presidente da CBD, Oscar Rodrigues da Costa. Também estava presente o presidente da República, Washington Luís, que assistiu aos eventos da Tribuna de Honra. Na preliminar do jogo principal, houve um embate entre a equipe vascaína de basquete contra o time da Associação Cristã, saindo vencedor o Cruzmaltino. Além disso, também foi disputada uma partida de tênis com duplas mistas. No grande encontro do dia, Vasco e Santos apresentaram um grande espetáculo.
O primeiro gol vascaíno no estádio foi de Negrito, aos 44’ do 1º tempo, empatando a partida. O Santos havia saído na frente, com o gol de Evangelista, aos 19’ da primeira etapa. Inaugurado São Januário, o estádio era então o maior palco de esporte da América do Sul, posto que somente viria a perder em 1930, quando o governo uruguaio construiu o Estádio Centenário, em Montevidéu, para sediar a primeira Copa do Mundo. O estádio vascaíno continuou sendo o maior estádio do Brasil, até a inauguração do Pacaembu, em 1940, construído com recursos públicos do estado de São Paulo. São Januário permaneceu como maior palco do futebol no Rio de Janeiro até 1950, quando foi inaugurado o Maracanã, construído com impostos recolhidos pela Prefeitura do Distrito Federal (Rio de Janeiro) para sediar a Copa do Mundo. São Januário, ao contrário dos demais estádios citados, foi erguido graças à união de sua torcida em prol da demonstração da grandeza do Vasco e uma resposta aos rivais e às elites da época, que objetivavam um futebol apenas para jogadores brancos de boa condição social.
A INAUGURAÇÃO DA CURVA: A SEGUNDA FASE
No dia 13 de novembro de 1927, o Estádio ganhou a “curva” da arquibancada. O primeiro jogo com a nova área foi realizado entre a Seleção Carioca e a Seleção Paulista, na final do Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais, vencida pelos cariocas por 2 a 1. O Estádio Vasco da Gama voltou a receber o presidente da República, Washington Luís. Com a inauguração da curva, a capacidade do estádio vascaíno elevou-se para 50 mil lugares.
A INAUGURAÇÃO DOS REFLETORES
O Amistoso Internacional disputado entre o C.R. Vasco da Gama e o Montevideo Wanderers, do Uruguai, foi realizado em 31 de março de 1928. Essa foi a partida que inaugurou os refletores.
O adversário uruguaio era esperado no ano anterior para participar do jogo inaugural do estádio, mas a federação uruguaia não liberou, o que ocasionou a remarcação da inauguração de São Januário, que seria no dia 10/04 para o dia 21/04 e o adversário foi o Santos/SP.
Além disso, constituiu-se como a primeira partida noturna de São Januário e a primeira partida internacional do Clube no local. O Vasco venceu o amistoso por 1 a 0, com um gol olímpico do ponta-esquerda Sant’Ana. Este foi o primeiro gol dessa natureza de que se tem notícia no futebol brasileiro.
São Januário foi o primeiro estádio no Brasil a realizar partidas à luz de refletores próprios.
POR QUE ESTÁDIO DE SÃO JANUÁRIO?
Apesar de o nome oficial ser Estádio Vasco da Gama, a casa vascaína passou a ser conhecida pelo nome de uma das suas principais vias de acesso: a rua São Januário.
Na época de sua construção, era muito comum que um campo ou estádio ficassem conhecidos por sua via de acesso.
Exemplo: Estádio da rua Figueira de Melo (São Cristóvão), Campo da rua Payssandu (Flamengo), Campo da rua Ferrer (Bangu) e rua Bariri (Olaria).
PRINCIPAIS EVENTOS CULTURAIS, CÍVICOS E POLÍTICOS REALIZADOS EM SÃO JANUÁRIO
07/09/1939 – Comemorações do Dia da Independência, realização da Hora da Independência.
01/05/1940 – Discurso proferido pelo Presidente da República, Getúlio Vargas, por ocasião do Dia do Trabalhador. Neste evento, houve a instituição do salário mínimo pelo Decreto-Lei nº 2.162, de 1º de Maio de 1940.
01/05/1941 – Discurso proferido pelo presidente da República, Getúlio Vargas, por ocasião do Dia do Trabalhador. Neste evento houve a instalação oficial da Justiça do Trabalho no Brasil.
01/05/1942 – Discurso proferido pelo Ministro do Trabalho, Marcondes Filho, em nome do Presidente Getúlio Vargas, por ocasião do Dia do Trabalhador. Vargas sofreu um acidente vindo de Petrópolis e não pode comparecer.
07/09/1942 – Comemorações do Dia da Independência, realização da Hora da Independência.
20/01/1943 – Desfile promovido pela primeira-dama Darcy Vargas, em benefício aos soldados e famílias dos combatentes brasileiros na Segunda Guerra Mundial.
07/09/1943 – Comemoração do Dia da Independência, Hora da Independência.
07/09/1944 – Comemorações do Dia da Independência, realização da Hora da Independência.
07/02/1945 – Desfile Oficial de Carnaval das Escolas de Samba do Rio de Janeiro.
01/05/1945 – Discurso proferido pelo presidente da República Getúlio Vargas, por ocasião do Dia do Trabalhador.
23/05/1945 – Comício de Luís Carlos Prestes.
12/08/1950 – Comício de Getúlio Vargas, candidato à presidência da República.
01/05/1951 – Discurso proferido pelo presidente da República, Getúlio Vargas, por ocasião do Dia do Trabalhador.
01/05/1952 – Discurso proferido pelo presidente da República, Getúlio Vargas, por ocasião do Dia do Trabalhador.
01/05/1956 – Discursos proferidos pelo presidente da República, Juscelino Kubitschek, por ocasião do Dia do Trabalhador.
01/05/1957 – Discurso proferido pelo presidente da República, Juscelino Kubitschek, por ocasião do Dia do Trabalhador.
PRINCIPAIS EVENTOS ESPORTIVOS REALIZADOS EM SÃO JANUÁRIO
15/05/1927 – Vasco 3×1 Flamengo/RJ – Primeiro Vasco e Flamengo em São Januário. A equipe vascaína “sobrou em campo”. Mesmo estando em processo de reformulação de seu elenco e ainda sentindo os efeitos de todo o esforço financeiro para erguer o maior estádio da América do Sul, o “Gigante da Colina” venceu a partida por 3 a 1 e conquistou sobre o Flamengo o troféu “O Pregão da Victoria”.
31/03/1928 – Partida de inauguração dos refletores do Estádio. Primeira partida noturna de São Januário e primeira partida internacional do Vasco no estádio. Vasco 1×0 Montevideo Wanderers/URU. Gol olímpico do ponta-esquerda Sant’Ana, o primeiro de que se tem notícia no futebol brasileiro.
09/11/1930 – Vasco 6×0 Fluminense/RJ. Partida válida pelo Campeonato Carioca de 1930. Maior goleada do Vasco contra o Fluminense/RJ.
26/04/1931 – Vasco 7×0 Flamengo/RJ. Na tarde de 26 de abril de 1931, em partida válida pelo 1º turno do Campeonato Carioca daquele ano, o Vasco venceu o Flamengo pelo placar de 7 a 0, estabelecendo uma marca que até os dias atuais é a maior goleada do “Clássico dos Milhões”.
25/05/1949 – Vasco 1×0 Arsenal, da Inglaterra (Amistoso Internacional). Na noite de 25 de maio de 1949, São Januário recebeu um dos maiores públicos de sua história, no Amistoso Internacional entre o Vasco e o Arsenal. Estima-se que 60 mil torcedores tenham acompanhado a partida. O famoso clube londrino, um dos mais tradicionais e populares da Inglaterra, fundado em 1886 e várias vezes campeão inglês, havia se sagrado mais uma vez campeão na temporada de 1947/48 e era exaltado como um dos melhores times do mundo. Foi derrotado pelo Expresso da Vitória.
06/12/1992 – Vasco 1×1 Flamengo/RJ. O Vasco ratifica a conquista do Campeonato Carioca de 1992, ao terminar a campanha de forma invicta.
12/08/1998 – Vasco 2×0 Barcelona (Equador). Primeira partida da Final da Libertadores. Vasco 2×0 Barcelona (Equador). Donizete 7′ e Luizão 33′ no 1º tempo.
06/12/2000 – Vasco 2×0 Palmeiras/SP. Primeira partida da final da Copa Mercosul.
20/05/2007 – Vasco 3×1 Sport/PE. Partida do milésimo gol do Romário. O gol foi marcado aos 2’ do 2º Tempo, de pênalti.
01/06/2011 – Vasco 1×0 Coritiba/PR. Primeiro jogo da final da Copa do Brasil. O Vasco dava o pontapé inicial para a conquista inédita da Copa do Brasil. Vasco 1×0 Coritiba/PR. Gol: Alecsandro 5′ do 2º Tempo.
24/07/2011 – Brasil 5×0 Alemanha. Final do Futebol Feminino nos Jogos Mundiais Militares.
Todas as informações foram fornecidas pelo Centro de Memória do Club de Regatas Vasco da Gama