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Terça-feira, 19/10/2021

Nos Vemos na Barreira – Buster Emil Kirchner

Sou um jornalista esportivo dinamarquês, interessado principalmente pelos fenômenos culturais, sociais e políticos no futebol. Vim ao Rio de Janeiro para descobrir de onde vieram os jogadores Evander e Marrony, revelados pelo Vasco da Gama, visto que eles atuam em um dos maiores clubes da Dinamarca, o Midtjylland.

Essa foi minha primeira vez no Rio, no Brasil e até na América do Sul. Então é seguro dizer que não conhecia nada até chegar ao Rio de Janeiro. Nunca tive interesse em nenhum clube brasileiro, uma vez que o Vasco da Gama era o meu principal interesse. Portanto, não posso comparar o Vasco ao Fluminense, Flamengo ou qualquer outro clube no Brasil.

Na nossa primeira noite, fomos até o entorno de São Januário para conhecer a atmosfera da torcida em um dia de jogo do Vasco. O Vasco jogava contra o Sampaio Corrêa e vimos o jogo num bar ao lado ao estádio. Infelizmente o Vasco perdeu a partida por 1 a 0, porém os torcedores presentes seguiram cantando e torcendo mesmo após o fim da partida. Isso foi muito impressionante para nós, é muito raro vermos isso acontecer no futebol dinamarquês.

A partir disso, começamos nossa pesquisa. Começamos a perguntar para algumas pessoas que achávamos na rua, para qual time elas torciam. Em Ipanema, achamos algumas bandeiras do Vasco, na Urca achamos pessoas com tatuagens do Vasco e em Santa Teresa conversamos com muitos torcedores vascaínos. Repetimos esse procedimento durante uma semana, indo em diferentes lugares dentro e fora da cidade.

No início, sempre que as pessoas se referiam à São Januário como sua casa, eu achava um pouco engraçado. Porém quando chegou sábado à tarde, eu entendi que aquelas pessoas não estavam brincando. Eles falavam sério. A atmosfera dentro do estádio, embora nem mesmo sendo com sua capacidade máxima por conta da Covid-19, foi extraordinária: “O Vasco não deve ser explicado, deve ser sentido”, foi o que me disse um amigo do lado de fora do estádio. O que eu senti ali?

Eu senti uma verdadeira paixão. Pessoas comuns, pobres, ricas, crianças, avós e muitas meninas cantando, torcendo e vivendo cada momento do jogo. Toda falta, passe ou chute, parecia que quem jogava eram os torcedores.

Eu tenho assistido futebol em boa parte do mundo. Em Manchester, Berlim, Liverpool, Hamburgo, Roma, Barcelona, México, Azerbaijão, Tailândia e sete países africanos diferentes. Mas o que eu testemunhei em São Januário, entra em um dos momentos mais incríveis que já vivi com o futebol em toda a minha vida. O estádio por si só parece um museu, cheio de mosaicos que via principalmente em igrejas. Embora o futebol esteja sendo engolido pela comercialização e pelo capitalismo em muitos lugares na Terra, o Vasco provou que as raízes do futebol seguem vivas. Essas raízes respiram, e respiram por conta dessa conexão com sua torcida. Eu espero que o Clube nunca esqueça da importância dessa torcida.

Nós também tivemos a oportunidade de falar com algumas pessoas de dentro do Clube. Para essas pessoas, eu gostaria de expressar meu sincero obrigado! Em todos os lugares fomos tratados com muito amor e bondade.

Na próxima vez que retornar à São Januário, trarei meu pai e meu irmão!

– Buster Emil Kirchner

Buster sendo bem recebido pela torcida do Vasco (Foto: Arquivo Pessoal)

Buster em visita à Vila Cruzeiro durante sua passagem pele Rio (Foto: Arquivo Pessoal)


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