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Quinta-feira, 21/04/2022

São Januário: 95 anos

Na ensolarada tarde de 21 de abril de 1927, coube ao major José Manuel Sarmento de Beires (1893-1974), aviador português que comandou a tripulação da aeronave Argos, a primeira a realizar uma travessia aérea noturna pelo Atlântico Sul, a honra de romper a fita inaugural do Estádio Vasco da Gama, que ficaria popularmente conhecido como São Januário. Ao lado do aviador lusitano, estavam o Presidente do Vasco, Raul da Silva Campos, e o Presidente da CBD (Confederação Brasileira de Desportos), Oscar Rodrigues da Costa. O Presidente da República, Washington Luís, estava na Tribuna de Honra do estádio.

Em 1925, o Vasco entrou para a Associação Metropolitana de Esportes Athleticos (AMEA), a convite dos outros grandes clubes. Permanecia, entretanto, a sensação de constrangimento por parte da agremiação vascaína em ter que exercer o mando de campo em estádios alugados, como Laranjeiras e General Severiano, abastecendo os cofres dos clubes coirmãos. Sensação essa, em grande parte, advinda dos olhares dos rivais, que usavam o fato do Vasco não ter estádio para diminuí-lo. Logo o Vasco, bicampeão da Cidade do Rio de Janeiro (1923-1924). Além disso, a perseguição contra os atletas vascaínos permaneceria. Era preciso dar um basta definitivo aos ataques contra o Vasco e seus jogadores, de modo que pudesse prevalecer a política de assimilação vascaína.

Iniciado em 1924, o processo de se construir a “casa própria” foi tomando corpo. No dia 28 de março de 1925, o Vasco assinou uma escritura de compromisso de compra e venda de um terreno da Sociedade Anonyma Lameiro. Era uma área de 65.445 m², no bairro São Cristóvão, em local conhecido como “Chacrinha do Imperador”, sendo a Rua São Januário uma das principais vias de acesso. O custo da aquisição foi de 609:895$000 (Seiscentos e nove contos e oitocentos e noventa e cinco mil réis). Este foi o principal espaço adquirido para a construção do Estádio Vasco da Gama.

Os representantes do Vasco no ato da assinatura foram o Presidente do Clube, o Comendador Antonio de Almeida Pinho (proprietário da Fundição Progresso) e o Primeiro Diretor de Esportes Terrestres, Manoel Joaquim Pereira Ramos. A última prestação da compra foi liquidada no dia 06 de outubro, permitindo que os vascaínos realizassem a cerimônia de hasteamento do pavilhão do C. R. Vasco da Gama, no dia 20 de dezembro daquele ano.

Adquirido o espaço, era preciso erguer o tão sonhado “stadium” vascaíno. Portugueses e brasileiros se uniram em prol do ideal de construir o maior palco do futebol nacional. Houve uma campanha histórica para a construção da “casa vascaína”. As três principais ações nesse intuito foram: uma gigantesca campanha para atrair novos sócios, que ficaria conhecida como “campanha dos 10 mil”; as contribuições individuais de vascaínos e vascaínas; e o lançamento de debêntures no mercado, ou seja, títulos de créditos ao portador.

O contrato entre o Vasco e construtora Christiani & Nielsen foi firmado em 17 de abril de 1926, assinando-o pelo Vasco o então Presidente Raul da Silva Campos, e Harald Broe, pela empresa construtora. A Cristiani & Nielsen era de origem dinamarquesa, cujos fundadores foram o engenheiro Rudolf Christiani e o Capitão de Marinha Aage Nielsen.

O Lançamento da Pedra Fundamental do Estádio, no dia 06 de junho de 1926, reuniu dentre outras autoridades, os dirigentes do Vasco, torcedores e o então prefeito do Distrito Federal, Alaor Prata Leme Soares. Além da assinatura da Ata de Lançamento pelo prefeito e dirigentes vascaínos, houve a inserção de uma espécie de “cápsula do tempo” no subsolo do futuro estádio, contendo moedas, jornais e outros objetos da época.

Iniciadas as obras, o processo de erguimento do “Gigante de concreto” entrou em ritmo acelerado. Era a primeira vez que o Rio de Janeiro e o Brasil experimentavam uma obra dessa envergadura, destinada ao esporte, mas, especialmente, ao futebol. Os vascaínos tomaram como missão de construir o maior palco nacional para acolher as partidas do “esporte bretão”. Dessa forma, o Vasco da Gama mostraria aos seus rivais, de uma vez por todas, o tamanho da sua grandeza.

A inauguração do magnífico “Stadium” estava prevista para o dia 10 de abril, tendo o Vasco como adversário a equipe do Montevideo Wanderers Fútbol Club, do Uruguai. Entretanto, a federação uruguaia não autorizou. Dessa forma, a estreia do “Gigante de concreto” foi remarcada para o dia 21 de abril, sendo o novo adversário o Santos Futebol Clube. Pouco mais de 10 meses depois do Lançamento da Pedra Fundamental, o Vasco dava ao Brasil o maior estádio da América do Sul. A área construída foi de 11 mil m², com capacidade inicial de 30 mil pessoas. O estádio foi aberto apenas com as arquibancadas laterais.

Inicialmente projetado para ser fechado, o estádio vascaíno teve mais uma fase concluída ainda naquele ano. No dia 13 de novembro de 1927, o Estádio ganhou a “curva” da arquibancada. O primeiro jogo com a nova área foi realizado entre a Seleção Carioca e a Seleção Paulista, na final do Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais, vencida pelos cariocas por 2 a 1. Novamente, o Estádio Vasco da Gama recebeu a presença do Presidente da República, Washington Luís.

Através de sua história de construção diferenciada e da sua utilização ao longo do tempo como palco de grandes manifestações populares e marcos importantes para o país, a “casa vascaína” escapou da serventia tradicional de arena esportiva e se colocou no decorrer de sua gloriosa existência como parte da história do Brasil, tornando-se um verdadeiro patrimônio nacional.   No estádio vascaíno, Getúlio Vargas assinou a lei que instituiu o Salário Mínimo, anunciou a instalação da Justiça do Trabalho, pronunciou discursos no Dia do Trabalho (1º de Maio) e no Dia da Independência (07 de Setembro). Geralmente, na comemoração da independência, o maestro Heitor Villa Lobos regia corais orfeônicos com milhares de jovens e crianças. Além de Getúlio, a Tribuna de Honra teve a presença de outras figuras importantes da política nacional, como Luís Carlos Prestes, Juscelino Kubitschek, Eurico Gaspar Dutra, João Goulart e outros. Na “casa vascaína” também foram realizados desfiles de escolas de samba e shows de bandas internacionais.

São Januário, assim como a Resposta Histórica, materializa a luta do Vasco da Gama contra o racismo, o preconceito social e o antilusitanismo. Na contemporaneidade, encontramos o mesmo desafio de ter que lutar contra os preconceitos que assolam a nossa sociedade e que se manifestam pelos estádios em partidas de futebol. A luta continua e São Januário continua a servir como inspiração o Vasco se posicionar como um agente na batalha contra os preconceitos. Consequentemente, o orgulho e o amor dos vascaínos se amplia cada vez mais.

FALTAM 5 ANOS!

Em 2027, São Januário completará 100 anos de existência! Uma das atividades que previstas, em comemoração à essa grande data, é a busca da famosa “cápsula do tempo” escondida no estádio vascaíno, no dia 06 de junho de 1926. Além disso, há a pretensão de se instalar outra “cápsula do tempo”, que servirá de mensagem aos vascaíno para daqui a mais um século.

Lançamento da Pedra Fundamental do Estádio, 06 de junho de 1926. Acervo: CPAD-CRVG.


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