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Futebol

Domingo, 26/08/2018

Especial Libertadores: Bastidores, “guerra” no Equador e boa relação do grupo até hoje

Na última reportagem da série especial dos 20 anos da conquista da Libertadores, vamos relembrar algumas histórias contadas por quem fez parte daquela campanha, como Antônio Lopes, Mauro Galvão, Donizete e Luisinho, mostrando que a decisão diante do Barcelona, em Guaiaquil, não foi tão fácil quanto parece e que o bom ambiente entre boa parte daquele grupo se mantém até os dias atuais, mesmo duas décadas depois daquele título.
PANTERA X LOPES
Contratado com a difícil missão de substituir Edmundo, Donizete esteve bem perto de ser dispensado. O início ruim na competição (derrotas para Grêmio e Chivas e empate com o América, no México) fizeram com que o Pantera reclamasse publicamente das exigências defensivas, o que deixou Lopes triste. 
Donizete superou problemas com Lopes e foi fundamental no título (Foto: Acervo Centro de Memória Vasco da Gama)

– Meu início no Vasco foi difícil. O Lopes queria que eu voltasse muito pra marcar. Ele é linha-dura, gostava muito das coisas certinhas. Os resultados não vieram nos primeiros jogos. Aí eu dei a entrevista, ele não gostou e pediu a dispensa. Ainda bem que o grupo e a comissão me seguraram – conta Donizete, enquanto o Delegado desconversa:
– Controlar um grupo de futebol é difícil. São jogadores jovens, com muita coisa em cima, dinheiro, televisão, carros… mas aquele grupo era sensacional. Nós resolvíamos os problemas internamente e isso fez a diferença no final.

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Válber: do Bloco das Piranhas a decisivo nas oitavas
Linha-dura, Antônio Lopes não dava folga aos atletas durante o Carnaval. Mesmo assim, alguns deles, davam um jeito de curtir a folia. E o coringa daquele elenco, Válber, nem fez questão de esconder que estava aproveitando a farra ao chegar num treino vestido de mulher:
– Teve um treino durante o carnaval, pouco antes de começar a Libertadores. O Lopes não deu folga e faltava só o Válber. O professor disse que o treino só começaria quando ele chegasse e assim foi. Só que ele apareceu com aquela moto verde (Kawasaki Ninja) pelo portão de São Januário, vestido de mulher. Com um fio dental. Todo mundo riu demais, ele era maluco – conta o volante Fabrício Carvalho.

Valber, ao lado de Mauro Galvão e Odvan em treino (Foto: Arquivo O Globo)
O Vasco teve uma primeira fase difícil e avançou com a pior campanha. Nas oitavas, o adversário seria o Cruzeiro, campeão do ano anterior. No primeiro jogo, o Cruzmaltino venceu por 2 a 1 em São Januário. Antes da partida de volta, Lopes perdeu vários jogadores após um jogo contra o Friburguense, pelo Carioca: Luisinho, com afundamento no crânio; Juninho, torção no tornozelo; Ramon, lesão no joelho; e Luizão, com oito pontos na boca após uma cotovelada. Além de Odvan e Alex Pinho, vetados. Após uma conversa com o superviso Isaías Tinoco, Lopes decidiu:
– O Válber tinha faltado a um treino e ficou fora da relação. Eu relutei, mas acabei ouvindo o Isaías na época. Ele que administrava os problemas extra-campo e o time também precisava do Válber, que era muito bom. Ele, Nelson e Nasa fizeram um grande jogo contra o Cruzeiro lá em Minas, seguramos o 0 a 0 e avançamos para às quartas de final.
TROMBADA NA CONCENTRAÇÃO
Na véspera de alguma partida que o Vasco fez fora de casa, o zagueiro Odvan, conhecido pela força física, quase tirou Donizete do jogo. E de uma forma bem diferente da que qualquer torcedor pode imaginar, como o próprio Pantera conta:
– Nós concentrávamos juntos. Eu tinha mania de dormir como vim ao mundo. Ele também. No meio da noite, eu acordei e fui ao banheiro. Pra não atrapalhar, não acendi a luz, nem dei descarga. O problema foi que o “negão” acordou na mesma hora. Na hora que voltei, ele tava indo. Um trombou com o outro. Joelho com joelho, cabeça com cabeça… foi bem desagradável. O meu joelho inchou e tive que ser medicado. Quase fiquei fora do jogo. O Odvan batia até na concentração (risos).

A “GUERRA” NO EQUADOR
Depois de eliminar o River Plate na Argentina, o clima de oba-oba ganhou os torcedores, mas os jogadores e a comissão técnica sabiam que ainda havia um adversário forte pela frente. E a decisão diante do Barcelona (EQU) não foi tão fácil quanto parece. Ainda mais por conta dos fatores extra-campo, onde os equatorianos fizeram de tudo para atrapalhar.

– Nós tivemos problemas desde o primeiro minuto que pisamos em Guaiaquil. Eles passaram uma imagem para os torcedores e a imprensa de lá que tinham sido maltratados aqui, talvez pra justificar a derrota. No aeroporto e no hotel era uma barulheira insuportável. Atrapalharam nosso treino na véspera, mas sabíamos disso tudo. Era só assim que eles podiam ganhar. Como capitão, reuní o time e entramos ainda mais concentrados. No estádio, o vestiário tinha fumaça, tinta pra atrapalhar. No campo eles atiravam pedras. Nós aquecemos no corredor do estádio – conta Mauro Galvão.
Após o jogo, foi só festa. Com a sensação do dever cumprido, os jogadores vibraram com a conquista e comemoraram durante dias. Na volta ao Rio, desfile em carro aberto, muito pagode e cerveja.

Festa após a conquista ganhou as ruas do Rio (Foto: Arquivo AFP)

GRUPO MANTÉM CONTATO
Duas décadas depois, aquele grupo que fez história de 97 a 2000 ainda mantém contato. Muitos jogadores daquela geração vitoriosa ainda mora no Rio de Janeiro, então costumam se reunir sempre que possível. E com os que moram longe, o Whatsapp e a internet facilitam a comunicação.

– Era um grupo maravilhoso. Aquela geração se entendia muito bem dentro e fora de campo. O ambiente fez muita diferença. Eu, por exemplo, tenho muito contato com o Donizete, Odvan, Edmundo, Felipe, Pedrinho… essa galera que mora no Rio. Dos que estão longe, como o Mauricinho, Mauro Galvão, Luizão, a gente sempre se fala por Whatsapp. É muito legal – conta Luisinho.

Grupo comemora no gramado após o apito final (Foto: Acervo Centro de Memória Vasco da Gama)


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