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Quinta-feira, 22/10/2020

Outubro Rosa: Conheça a vascaína que enfrentou 18 cânceres

O mês de Outubro é marcado por uma campanha de conscientização que tem como objetivo principal alertar as mulheres e a sociedade sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama e mais recentemente sobre o câncer de colo do útero. A campanha do Outubro Rosa é válida para população, pois é através do conhecimento que se obtém mais chances de ter sucesso. A melhor forma de entender o que significa a doença, a importância de defender essa causa e como agir com as pessoas que lutam pela vida diariamente é ouvir quem tem muito o que falar.

É o caso da ilustre vascaína Dijoráh Moraes. A torcedora superou 18 cânceres ao longo de quase duas décadas. Quem tem a honra de conhecer a história dessa guerreira começa olhar a vida de outra forma. Dijoráh compartilhou o momento da descoberta do primeiro câncer com todos os vascaínos:

Dijoráh em São Januário (Foto: Bruna Teixeira/ Vasco)

– Eu não acreditei que tinha câncer, pois eu sempre fiz os meus exames e nunca tive problema. Na hora eu imaginei que o exame não era meu. Em seguida, pensei em morrer durante os dez primeiros minutos. Depois eu aceitei a situação, decidi tratar a minha doença, porque eu amo viver. Graças a Deus eu tive o apoio do meu marido que me ajudou a passar por todas as batalhas. Ele me abraçou, me deu colo e em nenhum segundo ele disse que eu iria morrer. O meu parceiro André sempre falou que nós estávamos juntos e que iríamos vencer as batalhas da vida, inclusive os cânceres.

Como toda pessoa que precisa superar o câncer, Dijoráh passou por altos e baixos. As crises dos pacientes oncológicos são normais perto de uma doença que assusta a maior parte da população. A vascaína relatou como foi o momento mais complicado da doença:

– O meu dia mais difícil foi quando eu descobri que o tratamento não era eterno. Todo dia eu teria que matar um câncer lutando contra o tempo. Dizem que é matar um leão por dia, mas eu mato 10 cânceres diariamente. Ao todo eu tive 18 cânceres. Depois dos órgãos moles, foi para a tireoide, ossos etc. Eu pensei que os cânceres dos tecidos moles tinham acabado, mas Deus me deu mais um presente que eu com certeza vou exterminar. Falo isso porque descobri o primeiro câncer com 48 anos. O médico disse que seis meses era o tempo suficiente para ver se eu iria resistir. Hoje eu tenho 64 anos e continuo derrotando o câncer e a perspectiva de vida que me deram.

Dijoráh com a camisa oficial do Outubro Rosa 2020 (Divulgação/ Vasco)

Após derrotar vários cânceres, Dijoráh decidiu compartilhar com outras pessoas a fórmula para ter tanta força e sair vitoriosa. Ela falou que além de seguir as recomendações médicas sempre olhou para os problemas com um olhar positivo. A torcedora do Vasco conta como transformou a situação:

– Conheço muitas pessoas que passam pelo mesmo e eu dou conselhos para ajudá-las. Meu item 1 é não se entregar, acreditar na cura e  se amar. O item 2 é estar sempre para cima e ter pessoas que nos amam por perto, nos jogando para cima. Uma pessoa com câncer nunca pode pensar em acordar achando que está com um grau a mais. Tem que sempre acreditar que está acordando com um grau a menos. Quem tem câncer não pode pensar que amanhã vai cair o cabelo.Tem que acreditar que amanhã estará mais perto do cabelo começar a nascer novamente. Quem enfrenta essa doença não deve passar o dia de camisola. Eu sempre falo para levantar, tomar banho, se arruma, se maquiar e colocar um salto mesmo que seja para andar dentro de casa.

Outubro Rosa:

As pessoas que enfrentam doenças não estão sozinhas e é extremamente importante compartilhar todas experiências. Através da união os indivíduos podem trocar informações, se sentir acolhidos e adquirir mais força de vontade para vencer o câncer. O desconhecido muitas vezes assusta, então dividir ideias para superar as dificuldades e compartilhar soluções deixam todos mais leves. Foi assim que Dijoráh literalmente vestiu a camisa do Outubro Rosa e ajudou outras pessoas. A vascaína contou como foi o processo:

– O Outubro Rosa na minha vida fez uma enorme diferença. Conheci uma Senhora na academia chamada Maria Piedade e ela apresentou um câncer. A Maria nunca teve nada. Eu sai em busca do que era o Outubro Rosa. Foi quando eu aprendi que o índice de câncer de mama escolheu esse mês. Fui aos supermercados, pedi patrocínios, fiz umas camisas, fiz o retrato e comecei a distribuir durante uma programação em uma pequena caminhada. Naquele momento eu consegui apresentar a minha história para o mundo e conheci outras pessoas que estavam em estado quase terminal, mas graças a Deus não foram. Eu tive o dom de descobrir a tempo que a força da vida, o seu amor próprio e com a sua força interior você consegue exterminar o câncer. Por isso, acredito que o outubro Rosa deveria ser mais divulgado em todos os canais de televisão, jornais, comercias, nos outdoors etc. Acho que é pouco divulgado. Quero destacar que a importância da campanha é enfatizar que precisamos nos cuidar, porque no início tem jeito. No final que é triste.

Dijoráh sendo entrevistada (Bruna Teixeira/ Vasco)

Relação com o Vasco:

Os cânceres não definem a Dijoráh. Como toda guerreira ela não permite que os problemas sejam obstáculos para felicidade. Uma lutadora com bastante personalidade e que acompanha o Vasco em todos os lugares, essa é a Dijoráh. Sempre querendo viver a vida intensamente, a vascaína viaja para todos os estados e até mesmo para fora do Brasil. O objetivo dela é apenas ser feliz. Após criar 5 filhos e 9 netos vascaínos, Dijoráh decidiu aproveitar a vida ao lado do seu parceiro André. A vascaína fala com muito orgulho que nos primeiros meses do ano ela já compra todas as passagens de avião e faz reservas nos hotéis para apoiar o Vasco. Nessas viagens ela aproveita a oportunidade para conhecer os locais que o time Cruzmaltino joga. Dijoráh é extremamente apaixonada pelo clube do coração e relatou como é a relação dela com o Vasco da Gama explicando como esse amor é passado por todas as gerações da família:

– Quando meus netos nascem eles já têm na maternidade as lembranças do Vasco garantidas para as visitas, o enfeite da porta e a primeira roupa são sempre do Vasco. O tema da primeira festa é do Vasco e eu também  peço para todos os colegas dos meus netos irem vestidos com o nosso uniforme que é o mais lindo de todos. Depois disso não tem jeito e todos se tornam vascaínos.

Dijoráh valoriza muito a família e por acreditar nos seus ideais ela terminou um casamento, porque o seu ex-marido não torcia para o Vasco. Ela explicou que nasceu em uma época que os pais costumavam escolher o noivo, por isso ela não se atentou ao time que ele torcia. A parceria acabou no momento que ele falou a palavra errada, o nome do rival. Por ser bastante independente Dijoráh não pensou duas vezes e tomou a decisão da separação. A vascaína contou essa história:

– Eu fiquei só 5 anos casada com o meu primeiro esposo. Quando descobri que o meu ex-marido torcia para o maior rival do Vasco, que eu nem gosto de falar o nome, o casamento acabou. Durante o jogo ele gritou aquele nome horroroso e eu quis acabar na hora, mas esperei chegar em casa para pedir o desquite. Eu sempre trabalhei muito, levava as crianças para escola, tinha um emprego na secretaria municipal, vendia bolo e café para conseguir pagar a minha faculdade etc. Com uma vida corrida de mãe eu formei em pedagogia e administração.

Dijoráh no gramado do Caldeirão (Foto: Bruna Teixeira/ Vasco)

Após essa virada na vida da torcedora, ela teve o prazer de conhecer o seu atual marido, o atual coronel André Aires. Assim como Dijoráh, ele é torcedor fanático do Vasco e embarca em todas as aventuras propostas. É bem diferenciada a parceria que eles tem. Ambos estão juntos pelo mesmo ideal que é seguir o Vasco. O companheirismo dos dois desperta muita admiração dos torcedores que conhecem o casal. O Vasco uniu o casal e, logo, despertou interesse de ambos na construção de um relacionamento sério. Dijoráh explicou como surgiu esse casamento entre dois vascaínos:

– Durante a faculdade eu precisei ir ao batalhão pedir policiamento, porque muitos assaltos estavam acontecendo aos arredores da universidade. Quando cheguei ao batalhão conversei com o major da época, chamado André. Depois ele começou fazer a patrulha na minha faculdade. O serviço seria para ser realizado por soldados e durante dias as pessoas da faculdade estranhavam que era sempre ele que fazia a rota. Eu pedi para as minhas amigas não olharem para ele, pois eu conheci o André primeiro. Isso foi há 40 anos.

– Depois começamos a sair levando as crianças. Nisso descobrimos que juntos nós tínhamos 5 filhos, os meus e os deles que agora são nossos. Em um desses passeios o André foi vestido com a camisa do Vasco. O assunto surgiu e ele me perguntou se eu também torcia para o Vasco. Eu lembro de ter afirmado que era vascaína desde o dia que eu nasci e meus filhos também. Ele disse que os dele também eram torcedores do Vasco. Continuamos saindo outras vezes, inclusive para jogos do Vasco e o filho do meio dele sugeriu que a gente casasse. Até a minha filha que é muito ciumenta começou a insistir para que eu casasse com o André e olha que eu tinha pavor de casamento. O argumento das crianças era que a gente juntasse todo mundo e formasse um time de futebol. Então, nós conversamos e resolvemos fazer um casamento tradicional em casa. Todos ficaram felizes.

– Depois fomos morar juntos, os sobrinhos foram chegando e conseguimos reunir mais de 120 vascaínos assistindo os jogos do Vasco lá em casa. O tempo foi passando, nossos filhos foram casando, entraram algumas namoradas dos filhos do outro time que passaram rapidamente na família, depois entraram as vascaínas e hoje nós temos nove netos vascaínos. Acho que não perdemos nem para os bisnetos. A minha neta diz que ama o avô e que só vai casar se o marido for Vasco, porque se for torcedor de outro time não terá nem casamento. Ela garante que os filhos dela serão Vasco. Eu e meu marido sabemos que podemos ir para o céu hoje, porque vou deixar a minha geração vascaína aqui. Ele também. O André até chora pelo Vasco.

Jogo mais marcante para o casal vascaíno:

Dijoráh coleciona histórias pelo Brasil e fora do país seguindo o Vasco. Ela e o marido já viveram muitas emoções e conhecem vários estádios fora do Rio de Janeiro. Durante o bate-papo ela lembrou do jogo mais marcante para eles. A vascaína passou mal e o marido fez de tudo para salvá-la. Ela explicou como aconteceu esse evento:

– A história é meio cômica, mas é legal. Foi na Arena Pernambuco. Eu tinha tido um acidente vascular cerebral (AVC). Se eu tivesse lá ou aqui poderia morrer do mesmo jeito, então eu quis ir atrás do Vasco no estádio. Nessa época eu ainda não falava muito sobre os meus problemas quando eu estava mal. O estádio não tinha elevador e para chegar lá eu precisei subir muitas escadas. Quando cheguei no topo eu não conseguia enxergar mais e fui sentindo que eu ia descansar ali mesmo. Falei com o meu marido que eu precisava voltar. Só que lá teve um problema sério. A polícia disse que quem subia não podia descer. Meu marido explicou que eu era cardíaca e precisava voltar, mas a polícia continuou negando ajuda. Fomos descendo contra as recomendações e o André foi algemado, porém foi me socorrer. Eu realmente estava infartando. O meu marido não saiu do meu lado e ainda recebeu um processo porque não deixou o médico me socorrer sozinho. Eu tomo muitos remédios e tenho vários problemas de saúde. Só o André sabia o que eu tive, o que eu tomava e as contraindicações que eu tenho. Por isso, ele não quis autorizar o medicamento que tentaram me oferecer.

Casal vascaíno no aeroporto preparados para viajar (Divulgação/Vasco)

Ninguém mexe com o Vasco:

Mesmo após o incidente o casal continua seguindo o Vasco. Ambos se sentem felizes com essa parceria e a Dijoráh falou sobre o que a família dela acha dessas aventuras:

– Nós optamos que não vamos ficar guardando receitas médicas e consultas marcadas. No lugar disso vamos programar olhar as tabelas dos jogos, pesquisar e comprar as passagens de aviões. Se no intervalo desse surgir o aniversário de algum neto, por exemplo, a gente pede para mudar a data do evento porque os jogos não mudam e são únicos. Inclusive tivemos um filho que achava que o Vasco era mais importante, mas não é isso até porque todos são Vasco. Na realidade a gente tem que se conscientizar e dar valor as coisas. Eles terão outras oportunidades e a gente está correndo contra o tempo querendo apriveitar o máximo da vida.

– No dia das mães do ano passado os meus filhos queriam saber como eu iria comemorar a data. Eu sabia que teria jogo do Vasco em São Januário, então falei que estaria aqui almoçando no clube. Só um filho veio almoçar comigo no Restaurante do Almirante. No dia dos pais teve jogo fora e o André ficou para pizza da noite. Então, no outro ano a gente tem argumento também. Nós vamos se moldando. A gente vai aprendendo envelhecer com saúde e mantendo a família sempre unida. Se a família está unida no mesmo sentido vai dar certo. Às vezes acontecem ciúmes, porque eu vou no aniversário de alguém e não vou no de outra pessoa da família, mas eu falo: “Será que tinha jogo do Vasco nesse dia? ” Se tiver jogo do Vasco a gente vai para o jogo no Brasil, Chile, Argentina etc. Quando começa o ano eu já faço um calendário dos jogos e entrego para minha família ver os dias que estarei indisponível para eventos, pois eu vou aos jogos e eles sabem disso.

Dijoráh preparada para viajar (Foto: Divulgação/ Vasco)

 

MARIDO ACOMPANHA DIJORÁH PELO BRASIL

Através da admiração da torcida cruzmaltina em relação a cumplicidade do casal e do brilho nos olhos da Dijoráh ao falar do seu marido vascaíno, durante o bate-papo surgiu a curiosidade de entender o que a vascaína representa na vida do André que abraça todas as aventuras dela. Ele falou um pouco sobre o orgulho que sente da companheira e como ajuda a esposa superar as batalhas do dia a dia:

– A Dijoráh é um complemento da minha vida. Por acaso nos encontramos e éramos vascaínos. Já temos décadas de convivência. Alguns tropeços, dificuldades, mas nós conseguimos enfrentar tudo isso. Tentamos suplantar os problemas viajando e eu procuro sempre tirar os problemas da cabeça dela. Nós vamos trilhando o nosso caminho da melhor maneira. Conseguimos criar cinco filhos, todos formados e independentes. Agora nós temos nove netos.

– A Dijoráh é uma mulher lutadora e forte. Ela não abaixa a cabeça para situação nenhuma. Mesmo com os problemas da doença dela, a Dijoráh continua com o astral elevado. Isso faz eu crescer tocando a vida. Vivemos felizes com o nosso Vasco. Viajamos o Brasil e alguns países da América do Sul pelo nosso time. Ela é a minha companheira em todas as viagens e para mim é muito bom ter a Dijoráh ao meu lado. Por incrível que pareça ela briga mesmo pelo clube. Se alguém falar mal do Vasco acabou para ela, pois a Dijoráh discute mesmo. Ela é mais Vasco que eu, mas eu também sou muito vascaíno. Não abro mão do meu amor pelo Vasco. Conseguimos criar todos os filhos e netos vascaínos, mas também se não for a gente deserda. Tenho muito orgulho de todos e de tudo que construímos juntos.

– Quando a Dijoráh me falou que estava com câncer, eu demorei um pouco acreditar. Logo depois fiquei tranquilo, pois eu sei da capacidade dela de reagir aos problemas. Obviamente a gente fica preocupado em alguns momentos, mas eu procuro não transmitir para não diminuir o astral dela. A gente vai tocando e buscando ser feliz sempre.

André finalizou falando sobre o que espera para o futuro da Dijoráh e garante que apoio não irá faltar:

– Eu torço mais uma vez que ela supere todas essas dificuldades. A gente vai vencer. A vida é isso mesmo. Nós vamos andando, encontramos uma pedra no caminho e passamos por cima dela. Independente de tudo eu quero que ela seja feliz sempre. A Dijorah tem muita força e a espiritualidade dela é grande. Ela é a minha companheira.


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